Louca? Por que será que sou louca? Será porque ando lendo Tantas sílabas de lua nos versos dos pirilampos, que dicifro pelos campos pra ser trova em minha boca?
Ou, nas noites de verão bordo luar no vestido, ponho estrelas nos cabelos, em estranhas atitudes... Ao banhar-me de poesia no céu que fica invertido cintilando refletido nos espelhos dos açudes?
Louca? Por que será que sou louca? Será porque me interno num mundo de fantasia entre o horizonte e o galpão? ou, pelas manhãs de inverno, sou a noiva abandonada arrastando nas canhadas, o seu véu de cerração?
Ou porque quando amanhece Abro os olhos e a cancela pra deixar entrar o sol... E enquanto a manhã se cora me emolduro na janela sorvendo a luz da aurora num mate cevado a gosto com jujo do arrebol?
Louca? Por que será que sou louca? Porque envolta em lonjuras deliro com a ternura da primavera rural? Ou porque, quando me encanto, adormeço ouvindo o vento declamar no cata vento estrofes de temporal?
Talvez seja pelo fato de povoar a solidão com lembranças de alguém... Ou de andar gastando a vida sendo a moça prometida desse moço que não vem... Por bordar um enxoval com lágrimas e esperança ou enxergar com alma o que os olhos não vêem...
Eu até posso ser louca por ter crises de ternura quando tantas criaturas declinaram de seus sonhos e só vivem por metade por achar que a realidade só transita no visível... Pois há muito me disponho a encantar os infortúnios vivenciando os plenilúnios, sobre as flores dos lençóis, nos meus sonhos de menina quando a lua se ilumina pra acordar os girassóis
Louca? Será que me dizem louca pelo doce desespero de perseguir o cincerro que bate no coração? Ou nunca fechar a porta a esperar quem não volta com arco-íris nos olhos e margaridas nas mãos?
Ah, o amor é um luzeiro que toda vez que alumbra traz o céu para a penumbra pondo estrelas no candeeiro. É encontro e desencontro numa ausência tão presente que faz a vida da gente viver na vida do outro. Estabelece critérios e tira a gente do sério por seguir o coração... É transpor o concebido ao encontar um sentido para perder a razão.
Não sei se perdi o tino ou se foi que me encantei de amor em desvario? Só sei que nas noites claras a loucura me ampara e vejo o que ninguém viu: enquanto o céu chove estrelas a lua dança no rio...
Pode ser que eu seja louca mas tenho cá minhas causas... A vida é bela e tão pouca pra viver presa “nas casa”. Pois quando ando no campo e vou além da porteira, o meu olhar com goteiras se acende de pirilampos...
Louca? Concordo que seja louca porque invento quimeras na crença dessas esperas que chegam ao sol se pôr... Porém prefiro sofrer desta loucura sadia que encanta de poesia e enche o mundo de cor, do que passar pelos dias sem conhecer a magia que enlouquece de amor!
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário